20 junho 2012

Não foram felizes para sempre

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Mas é só o fim da história que importa?


"Outro dia, uma amiga veio aqui em casa, começamos a conversar sobre literatura e acabei, meio a contragosto, emprestando um livro para ela (sim, sou essa pessoa chata que não gosta de emprestar livros! Ninguém devolve. Sei disso porque estou cheia de livro dos outros em casa). Bom, depois que emprestei, fiquei toda curiosa para saber o que ela tinha achado. Ela não costuma ler muito, mas eu tinha a certeza de que , desse livro, ela ia gostar. Depois de meses enrolando, ela finalmente começou a ler. Daí, um dia ela entra no MSN e fala: "Terminei o livro". Pergunto: "E aí, e aí?" E ela responde: "Ah, não gostei do final." Sério. "Não gostei do final": isso é tudo o que ela tinha a dizer? Suspirei e perguntei o que ela achou, então, das outras 290 páginas, já que não tinha curtido as últimas dez. "Ah, sei lá, achei que a história ia acabar indo para outro lado", ela respondeu. De novo, a danadinha focada no final. Desisti e não comentei mais sobre o livro (a não ser pra cobrar a devolução). E fiquei pensando: quantas vezes a gente dá muito mais valor ao final das coisas do que à história toda? Nem é só com livros ou filmes. Tem gente que tem um namoro perfeito, que durou três anos felizes, sem nenhuma discussão. Ok, isso não existe. Mas, enfim, o namoro foi lindo a maior parte do tempo e teve um final péssimo - digamos, o cara se apaixonou por uma menina e ambos fugiram para o Caribe. Por que parte tem que apagar os três anos inteiros, como se eles não tivessem valido a pena? Tenho uma amiga que ama com todo o amor dela detonar o ex porque ele a largou de repente (embora não tenha fugido para o Caribe com ninguém). Hoje, ela já está toda serelepe com outra pessoa, mas, se você pergunta sobre aquele namoro, ela já vai respondendo que foi uma história sofrida, que quase morreu e tal. Ou seja, os momentos em que os dois tomavam sorvete, os passeios, a harmonia, tudo sumiu, e ficou só um cara sem coração e um fim sofrido. Pior, ficou aquela sensação de "não deu certo". Aliás, se tem uma coisa que eu sempre detestei nos meus fins de namoro é quando alguém me perguntava: "Ah, mas por que não deu certo?" Só porque acabou, não deu certo? Para mim, passar um tempão feliz com alguém, é sim dar certo com essa pessoa, vai. Uma vez, um amigo meu, superneurótico com dieta, ficou tão encanado com o tanto que tinha comido numa festa que foi embora com a cara fechada, depois de uma noite bem divertida. Também tenho uma amiga que, no último dia de uma viagem de um mês, quebrou um dedo e ficou tão mal-humorada que nem gosta de se lembrar da viagem. Sério, foram tantos dias ótimos, mas ela só se foca no último. Já me peguei fazendo isto também: encanando com a parte chata de uma conversa que, pela noite inteira, foi tão agradável; recordando justamente a hora da festa que não foi legal. Por quê? Por quê? Pode ser hábito, pessimismo, memória ruim. Sei lá. Só sei que eu, até o fechamento desta edição, não faço a menor ideia se existe vida depois da morte. Sem querer ser mórbida nem nada, se não existir, a gente vai ter que se contentar com um final bem sem graça para nossa trajetória: puf, sumimos da Terra. E aí, a vida valeu menos a pena por causa disso? Não acho. Prefiro me focar mais nas 290 páginas que eu aproveitei."

Crônica por: Liliane Prata. Publicada na Revista Capricho - Edição 1107 

5 comentários

  1. Amei a cronica e por um momento pensei sinceramente que vc que tinha escrito... hahahah!

    BjoO!

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  2. Muito legal, hahaha. Queria conseguir pensar assim mais vezes.

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